Aos 17 de maio de 1904, inicio do século XX, quatro anos após a morte de um dos filósofos mais inquietos e, portanto bastante estudado nos últimos tempos, Friedrich Nietszche, nasce, na cidade de Oeiras, um homem negro, filho de agricultor, talvez descendente de escravos. Seu pai Raimundo Nunes de Queiroz; sua mãe Francisca Soares Queiroz. Tudo isso já falei aqui (neste blog), mas acho que não deixei bem claro que eu penso que ele veio preencher lacunas meio que por necessidade do “destino” da historia.
Com o poder do seu humanismo fez ressoar nos dias de hoje, configurando certa permanência na memória coletiva local, e de parte da população do estado do Piauí, o seu nome que agora é de várias formas lembrado. Digo de várias formas por que conseguia ser conselheiro de sensibilidade singular nas diversas ramificações das atividades sociais, artísticas e humana.
Recentemente Possidônio fora agraciado com mais uma homenagem póstuma, ao dedicarem seu nome à Sala dos Advogados da OAB/PI, na Vara do Trabalho de Oeiras, no dia 06 do corrente mês. A homenagem foi justificada pela sua atuação como advogado provisionado, sendo que seus conhecimentos provenientes dos estudos individuais lhe deram a oportunidade de passar no concurso. Atuou com humanismo que lhe era característico sempre interdisciplinando a hermenêutica dos textos jurídicos com as noções universais das diversas áreas do conhecimento humano.
Desprovido de imparcialidade continuo a escrever tentando afirmar o que é de fato o devido reconhecimento, lembrando que, também, no dia 20 de novembro de 2009, a Prefeitura Municipal de Teresina, através da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, homenageou com seu nome a sala de concerto do Palácio da Música. Esta é a sede da Orquestra Sinfônica de Teresina que provida de uma sala apropriada para execuções de peças musicais da orquestra da cidade, bandas de musica, entre outras formações camerísticas. Como houve a brilhante época em que como ele mesmo dizia “fazíamos de músicos”, e que, portanto “soprava o instrumento que MARCIAS criara”, (quis dizer a flauta) vestiram-no, então com a indumentária do reconhecimento da sua produção cultural nessa arte que, de tão complexa técnica e estruturalmente, encantou a opinião daqueles que assim escolheram e denominaram a Sala Possidônio Queiroz.
Anterior a essa belíssima homenagem houve a mobilização por parte do deputado Mauro Tapety, através da lei estadual de número 5382, de 23 de abril de 2004, que pensando na condição de professor do ensino ginasial e a todos aqueles indivíduos que o procuravam em sua casa para orientação, tiradas de dúvidas ou simplesmente conversas informais, que se tornavam verdadeiras aulas sobre a vida e as coisas, achou justo indicar seu nome, personificando esse ambiente de produção de conhecimento acadêmico, que é a Universidade Estadual do Piauí – UESPI, com a denominação de CAMPUS PROF.º POSSIDÔNIO QUEIROZ, sediado em Oeiras.
Peço perdão pela ignorância e falta de tempo na criação deste texto por não encontrar a identificação do proponente do nome da nossa extinta Escola de Música Professor Possidônio Queiroz, instalada na velha capital, em data, também, desconhecida por mim.
Não sei quanto mais conseguirei escrever sobre a figura do meu bisavô que desde a infância sinto-o com muito orgulho e peso de responsabilidade por ostentar um sobrenome construído com a força que tem hoje devido a sua despretensiosa dedicação à cidade de Oeiras e isso eu defendo de fato com veemência e firmeza. Tantas foram as chances de sair e continuar seus estudos. Entre elas a única a que se permitiu indo morar em Teresina, nos idos de 1924. Lá imagino que se prostrava em lágrimas de saudade do seu torrão natal como conta que certa vez, na véspera de natal, ouvira da sua república o som de uma flauta que de leve chegava a seus ouvidos. Inconformado foi em busca da fonte sonora e ao chegar à Praça Rio Branco depara-se com um solitário flautista com que logo fez amizade. Lá teve a incrível experiência de tocar acompanhado pelo Maestro Pedro Silva.
Há histórias e narrativas dentro do nosso tempo cronológico, relativas a contextos pelos quais transcorreu o século XX - anos de sua trajetória, e em momentos de grandes vitórias tais como: Criação do Ginásio Municipal, defesa do nome de Oeiras em detrimento do decreto-lei federal nº3599 de 06/09/1941, do então Presidente Getúlio Vargas, criação da Diocese de Oeiras, do Instituto Histórico de Oeiras, do Jornal “O Cometa”, etc. Também, na vida privada e seus momentos de resignação, da solidão povoada, dos anseios não alcançados e dos méritos não reconhecidos em tempo hábil para regozijo.
Tomo em punho a causa da passagem da sua data natalícia para tentar representar algo que é tão difícil e ao mesmo tempo tão fácil. Fala-se muito em Possidônio Queiroz, mesmo assim ainda tem muito espaço em branco - talvez a literatura acadêmica possa dar ênfase a relatos importantes para a memória oeirense que este conseguiu registrar nos seus documentos. Material este ainda virgem ao olhar dos pesquisadores. Muitos o conhecem, já ouviram falar, porém em maior profundidade analítica, histórica, artística, cultural e todas outras relações sociais em que se envolveu necessitam ser por nós estudadas e divulgadas, afim de que esse exemplo tão impar de bondade e humanismo seja absorvido pela memória dos que ainda virão a navegar nas historias e encantos do velho Possi.
Muita coisa precisa ser dita pela historiografia e palas literaturas que possuem a capacidade de estudar e representar as figuras que são assim necessárias para nosso reconhecimento como indivíduos da comunidade e, mais ainda, para a apropriação da cultura histórica e do nosso maior patrimônio que é a identidade do cidadão Oeirense.
Rodrigo Queiroz
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