terça-feira, 12 de junho de 2018

Possidônio Queiroz e as recordações sobre cotidiano de Oeiras na década de 1920


RODRIGO MARLEY DE QUEIROZ LIMA[1]



RESUMO: Este artigo tem como primeiro objetivo refletir sobre a forma como o homem de letras Possidônio Queiroz experimentou e capturou o cotidiano de Oeiras na década de 1920. A escrita deste texto tem como suporte um corpus documental que ele chamou de Recordações – III. Este material permitirá também que seja avaliada a sua produção historiográfica. Ao que tudo indica, os documentos em tela resultaram de suas lembranças, ocorrendo a passagem da memória para a História. Foram registrados neles as “cousas” de Oeiras, dentre as quais se destacam as lendas, os mitos e outras manifestações culturais daquele início do século XX na cidade de Oeiras. Na exploração dos escritos foram encontradas paisagens – imagens - baseadas nas lembranças de um indivíduo que experimentou a segunda década do século XX. Portanto, problematizaremos as representações construídas por Possidônio Queiroz discutindo o papel da memória acreditando como o faz John Tosh (2011, p.291).

Palavras-chave: Possidônio Queiroz, cotidiano, Oeiras




[1] Escrevi este texto ainda no mestrado. Foi avaliado como trabalho final da disciplina História e Cidade. Compartilho agora com os leitores do Memorial Possidônio Queiroz. Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Historia do Brasil – PPGHB/ UFPI. Desenvolveu pesquisa intitulada “DO ALFORGE DA MEMÓRIA”: Possidônio Queiroz, Oeiras e as narrativas de si, sob orientação do prof. Francisco Alcides do Nascimento. 



Papéis, documentos
Velhas normas de comportamento.
Na rotina de sol e cimento
amanhecemos
Velhas roupas
E ressentimentos
Na rotina dos sonhos pequenos



Cem cata-ventos
Alegria criada ao relento
Entre esquinas
E esquecimentos

(Frevo por acaso Nº 2 – Cícero Rosa Lins)

 Por que se a gente fala a partir de ser criança,
 a gente faz comunhão; de um orvalho e sua aranha,
de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore.
Então eu trago das minhas raízes crianceiras
a visão comungante e oblíqua das coisas.
Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina.
É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo
sem pudor. Eu tenho que essa visão obliqua vem
de eu ter sido criança em algum lugar perdido
onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela.
Era o menino e os bichos. Era o menino e o sol.
O menino e o rio. Era o menino e as árvores.

(Manoel de Barros – Gramática expositiva do chão)

Esses dois trechos poéticos, o primeiro de Cícero Rosa Lins e o segundo de Manoel de Barros, que é considerado o maior poeta brasileiro vivo por Carlos Drummond de Andrade[1], nos faz pensar o sentir a cidade a partir das coisas mais efêmeras que a vivência cotidiana embrutecida pela rotina nos relega. Cícero que canta com voz suave os vestígios que criamos das temporalidades de uma época nos dá a ver como uma música nos liga a uma cidade, a uma vida, às construções materiais e ideológicas, comportamentos, rotinas, cotidiano, aos textos, à pesquisa e a esta escrita que se consome para construção de uma análise maior.
Manoel de Barros por sua vez nos chega por influência de uma análise desenvolvida por Ana Cristina Brandim que nos mostra a suavidade da poesia daquele artista como inspiração para uma escrita sensível da história. Assim a literatura possui relevante importância na produção da habilidade que o historiador deve ter ao fazer o seu texto chegar ao entendimento do publico leitor, pois “para isso a função imaginativa é tão importante para quem escrever como para quem lê, não para deturpar fatos, versões e encaixá-los em suas narrativas, mas como liberdade de criação”[2]. Para uma verificação histórica nesta perspectiva e com estas possibilidades de escrita:

o pesquisador/ historiador precisa estar atento, assim como o poeta, o ficcionista, para  o fato de que somente capturamos parcialidades e que estas são exprimíveis pela riqueza e também pela limitação das palavras. Baudelaire já insistia: o mundo não foi criado foi dito, sugerindo que a narrativa é uma forma significativa de atribuir sentidos e que aquilo que acreditamos ser real é apenas resíduo diante da imensa capacidade textual que tramamos todos os dias[3].

Mas onde entra aqui, para esta comunicação, as imagens que são criadas sobre as recordações de uma cidade? Francisco Alcides do Nascimento, em seus estudos e desenvolvimento de pesquisas que lançam olhares para a cidade Teresina em diversas temporalidades, espaço produtor de conflituosas relações sociais, elucida-nos muito bem sobre o que vem a ser cidade, afirmando que ela é “um fenômeno que se revela na percepção de emoções e sentimentos dados pelo viver urbano e também pela expressão de utopias, de esperanças, de desejos e medos, individuais e coletivos, que essa habitar em proximidade propicia[4]”. É, então, olhando para as formas de vida, os sonhos, hábitos, costumes, habitar, medos que lançamos mão de um despertar para a possibilidade de se extrair todas essas movimentações de um tempo e suas leituras que fita outro tempo. Em suma pretendemos ler e (re)ler, fragmentar o documento Recordações- III, elaborado por Possidônio Queiroz, em Oeiras, do Piauí, para perceber o quanto esse indivíduo pensou, percebeu e criou sua cidade na década de vinte através da memória que elaborou com vistas nas lembranças e experiências.
A cidade de Oeiras foi o primeiro núcleo urbano que se desenvolveu no território que depois veio se constituir como província e logo após como estado do Piauí. Foi a primeira capital da província instalada por ordem de D. João V em decreto de 1718, desmembrando o território do Piauí do Maranhão. Esse status de capital foi perdido em 1852 quando o governador Conselheiro Antônio Saraiva consegue aprovação do projeto de transferências para a Nova Vila do Poti, cidade hoje denominada Teresina.
Oeiras é articuladamente produzida sob o discurso de que se manteve guardada pelas tradições por conta desse “duro golpe” desvelado sobre a terra. Discurso este produzido pela memória da população e reforçado pelos homens e mulheres que pensaram a cidade, homens das letras. Como afirma Pierre Bourdieur “Habitus é o sistema dos esquemas interiorizados que permitem engrenar todos os pensamentos, percepções e as ações características de uma cultura, e somente, esses.” Sobre esse formato de pensamento Possidônio Queiroz também escreveu, e muito, confirmando que existe um ressentimento da população, o ressentimento oeirense pela transferência da capital :  

No ano de 1852 transferiu-se a sede do governo para Teresina. A velha terra sofreu duramente, o rude golpe. Desanimou-se. Viu caírem muitos dos seus monumentos antigos, prédios que nos falavam de um passado histórico, pleno de lutas, de sofrimentos e de conquistas.[5]

Dessa forma é necessário deixar claro que o autor destas linhas é também um oeirense. Percebeu e sentiu a cidade onde morou carregada com esse ranço de ter perdido a chance de correr rumo ao progresso. No entanto Paul Veyne chama atenção para o pensamento de Michel Foucault no olhar do historiador afirmando que “os discursos são lentes através das quais, a cada época, os homens, perceberam todas as coisas, pensaram, agiram”; e neste caso a cidade em pleno século XX ainda se imaginava assim, pois o discurso “se impõem tanto aos dominantes quanto aos dominados, não são mentiram inventadas pelos primeiros para dominar os último e justificar sal dominação”[6]. Por isso devermos percorrer a pequena cidade no “sentido de ler a estrutura espacial como um documento do processo temporal” e, aliado a isso a leitura das mais diversas fontes como livros, diários, cartas, narrativas de viajantes, crônicas, postais...E assim vinculando a cidade e as experiências relacionadas a ela, juntamente com o sentimento gerado através das relações tecidas entre ele, a história e a memória. Os conflitos inerentes às práticas humanas não se desvinculam dos sentimentos desenvolvidos pela impossibilidade de alcançar algo, sejam eles: impedimentos, contrariedade, controle social e relações de poder que se dão na sociedade.

Recordar a década de novecentos e vinte é viver traços emocionantes do cotidiano oeirense...

Possidônio Nunes Queiroz foi um dos homens das letras de Oeiras. Nasceu em 17 de maio de 1904, nesta cidade, e faleceu em 01 de janeiro de 1996, no mesmo centro urbano, que saudosamente chamava de Velhacap. Era negro, filho do agricultor Raimundo Nunes de Queiroz, que conseguiu aglomerar certa quantidade de patrimônio como terras, cabeças de gado, entre outras propriedades urbanas como casas e terrenos. Assim ele conseguiu inserir os filhos nos primeiros anos de instrução através das aulas particulares que eram pagas aos professores que ensinavam em suas casas. Assim iniciou seus primeiros estudos com Dona Quininha Campos que, “não dispensava a palmatória no desasnamento de seus alunos, método pedagógico empregado em escolas particulares ainda na década de 1960, no subúrbio de Teresina[7]”.
Encaminhou-se para tentar estudar em Teresina em 1924.  Esta constitui a primeira das poucas viagens que fez para a cidade. Pelo que se revela nas informações repassadas por cartas, discursos, relatos de memória, entre outros, fora à Teresina apenas a negócios ou tratamento médico; sendo que, na primeira foi tentando estudar, a segunda foi uma visita que está documentada em “Diário de 1952” [8] – ano de festa da comemoração dos 100 anos da nova Capital piauiense. Ultima já na década de 1990 para cirurgia de ocular.
A esta altura Possidônio que já se envolvia com as cousas da cidade começa a traçar os primeiros elementos que constituiriam suas identidades. Foi autodidata, leu muito, e assim começou a fazer parte de grupos que debatiam e falam de Oeiras. fez discurso, escreveu cartas e se correspondeu com pessoas de todo o estado e construiu um rede relações que foi para além da cidade. Foi professor de português, matemática, músico, orador e advogado rábula.
Compôs valsas, choro, e marchinhas, algumas pesquisadas, arranjadas e divulgadas no estado do Piauí pelo maestro Emmanuel Coelho Maciel que diz ser as valsas composições com características de andamentos rápidos como as valsas europeias que, também são curiosas por possuírem “introduções, onde se destacam solos de cunho virtuosísticos, feitos por algum instrumento e, [...] uma pequena sequência de valsas semelhantes ao esquema formal das valsas vienenses incluindo uma coda de efeito grandioso”.
Voltando ao nosso objeto de análise que são as recordações do cotidiano oeirense na década de vinte, tomaremos como focus documental um texto chamado Recordações – III. Não sabemos ao certo quais as principais e definitivas intenções de Possidônio ao escrevê-lo. São passagens que faz pela década recordando de momentos que para ele são selecionados por atingirem com, relevância, as inquietações da alma, passíveis de ser revividos com as lembranças. Assim afirma que “recordar a década de novecentos e vinte é viver traços emocionantes do cotidiano oeirense, é lembrar doces retalhos da alma da nossa gente”[9].
  O documento foi escrito com doze páginas de papel oficio partidas ao meio e com margens criadas por ele mesmo, através de sua Remington[10], descrevem algumas situações em que Possidônio lembra com clareza de fortes momentos de simplicidade, confrontando-se com nossa realidade atual e trazendo com sensibilidade lembranças de elementos e características da Oeiras da década de vinte. Apesar de sua extrema preocupação histórica, pois sempre inseria datas e comentários no que produzia, esse texto aparece-nos sem datação. Sabemos, no entanto, que trata-se de memórias produzidas na década de 1980, já que ao comentar sobre a religiosidade da população afirma que “o padre Roberto Lopes, recém ordenado, já falecido como Monsenhor, em Parnaíba”.  Ora ao verificarmos que o padre havia falecido na década de oitenta, então Possidônio Queiroz escreve o texto após este evento, tratando-se, portanto, de uma das últimas elaborações de memória escritas por ele que já contava ele com oitenta anos.
Sobre o mesmo documento, Francisco Alcides do Nascimento comenta como que Possi revela-nos aspectos do cotidiano da cidade e que através do registro “nos oferece muitos indícios da vida calma que a população levava naquela cidade do sertão do Piauí” [11]. É assim que inicia o texto descrevendo que a cidade era pacata e como nos faz elaborar imagens sobre o entorno da praça do Mercado e como se vivia nos tempos sem energia elétrica:

Ao tempo não havia iluminação elétrica. A urbe era aclareada por candeeiros a carboreto. Na antiga Praça do Mercado havia diversos. Na porta de nossa residência tínhamos um poste. Era eu o encarregado de acendê-lo. Nas noites de plenilúnio, dispensava-se a iluminação.
Lá do alto, do céu da Velhacap, a então formosa virgem navegadora da amplidão, celênica, imensurável, redonda hóstia de luz, se debruçava carinhosamente sobre o nosso casario, e o revestia de luz suave, aumentando o contorno das figuras fazendo parecer visagens em coisas simples, aos olhos espantados dos jovens namorados[12].

A simplicidade da paisagem, o romantismo da luz da lua é descrita como companheira transeunte dos jovens namorados. As referências que faz aos jovens, aos tempos de juventude são o tempo todo tomadas como base nas memórias. Exemplo disso é mais um dos vários trechos como o que retrata a falta que fazia os clubes sociais para a diversão e o lazer da sociedade. Festas só aconteciam em casas de particulares. Para tanto segue refletindo que eram nas igrejas que aconteciam as maiores demonstrações de sentimentos onde os jovens poderiam se encontrar lançando olhares, pois nem na mão das moças os rapazes podiam tocar.

As aproximações de davam também, nas funções religiosas, sobre tudo nas novenas. BILAC, disse, certa vez, que a igreja era o quartel general do namoro. Na havendo clubes sociais, nem jardins, onde passearem, era, nas igrejas, onde os namorados se encontravam. Nessas ocasiões os rapazes rezavam mais às suas eleitas, que às santas nos altares. BILAC tinha razão[13].

E, sobre os namoros nas igrejas, continua:

Os nossos rapazes nas novenas contemplavam apenas os olhos das nossas eleitas. Uma olhadela, de meio minuto para a imagem da Madona, lá no seu nicho, e resto da celebração religiosa, uma hora ou mais de muda e adorativa contemplação para os olhos poéticos, doces, encantadores da deusa a cujos pés tinha a alma acorrentada[14].

A igreja católica da década de vinte em suas práticas religiosas representa duas distintas cidades. Aquela que adormece nos seio de almas contritas envolta de um sentimento puramente religioso, inspiradas pelos acalorados sermões do padre Roberto Lopes que “se arrebatava e arrebatava os ouvintes”, e a cidade que em sentido contrário, secretamente tingiam os corações apaixonados de sentimentos heréticos, desviantes ao fixar os olhares dos jovens para as damas. Essas são as cidades de que fala Ítalo Calvino, as cidade que “como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor do seu discurso seja secreto, que as elas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam outra coisa”[15]. 

        Ao historiador sensível às coisas do tempo, o leque que se abre como possibilidades de estudo das cidades é inelidível tendo em vista que ao traçar um olhar sobre os elementos que compõem o cotidiano do citadino, torna-se viável observar as construções políticas e sociabilidades, as práticas artísticas literárias e os rituais religiosos, as fugas de migração, os movimentos intelectuais, educacionais, o forjar de pensamentos ideológicos, utópicos e, entre outros tantos leques, a imaginação como ordem que nutre o pensamento daqueles que sentem a angústia de ver e viver numa urbe melhor.
        As sociabilidades, as práticas artísticas, são representadas sempre que lembra da lua. Ele a tem como musa inspiradora para suas composições e para a execução dos músicos que embalavam a cidade com melodias que se ouviam de longe. Cidade pequena, instrumentos de sopro, as cordas – no acompanhamento – são elementos que dão acordes que escrevem narrativas e imagens da cidade:

Nas noites estivais, quando a rainha da amplidão sideral se apresentava em fase de plenilúnio, e entrava andar pelos caminhos do céu, tudo era encantamento. E, as serenatas se faziam, sob a magia poética dos olhares de dindinha Lua, transfazendo os ares oeirenses em momentos de harmonia doce, universal. As almas se engolfavam no mundo dos sonhos e da fantasia.[16]
Maria Izilda Matos trata as projeções sonoras como representações múltiplas “que se tornam hábitos alguns lembrados com afeição, (e) permitem entrever que os comportamentos, valores e sentimentos que são aceitos em uma sociedade num certo momento histórico” assim lembranças são ativadas no bojo da memória demonstrando “outras formas de organização social e/ ou em outros períodos. Permitindo questionar a universalidade dos sentimentos e, assim, abrindo possibilidades para a história das sensibilidades”[17].
São as cidades sensíveis, invisíveis e imaginárias sobre as quais, a através da Historia Cultural do Urbano, Sandra Jatahy Pesavento[18], reflete. Provocação instigante, quando questiona elucidativa, o que quer mais o historiador se não debruçar-se sobre a aquarela de possibilidades em meio à tantos indícios de um tempo, mesmo que este transforme incessantemente o espaço analisado.
Para isso pensamos o documento produzido por Possidônio como uma das categorias textuais que se inserem no rol de materiais que Ângela de Castro Gomes indica como escrita auto-referencial ou escrita de si. Conjunto de produções que se inserem no âmbito do espaço privado e que aglutinam ao público. Para por em exemplos e fazer link com o documento por ora analisado, podemos inserir neste rol as cartas, os diários, livros de memória, crônicas, entre outros, que de alguma forma propõe contar historias e construir um “eu”, mas que a partir desta construção de si, não harmônica e descontínua:

que as práticas culturais de produção de si se tornam possíveis e desejadas, pois são elas que atendem à demanda de uma certa estabilidade e permanência através do tempo. (...) um indivíduo uno e múltiplo, e que, por sua fragmentação, experimenta temporalidades diversas em sentido diacrônico e sincrônico.

O indivíduo que escreve essas memórias sobre uma temporalidade tão distante no agora que delineia no papel, mas que no longe do tempo, experimentou os relatos dos momentos “felizes”, “alegres”, enamorados”, “alvissareiro”, sente saudades e por isso sonha para que, em vias de lembranças possa se sentir vivo.  
Complementando essa discussão acerca da importância de se tentar entender e explicar as dimensões plurais dos (res) sentimentos e como isso implica no social é que Ansart afirma que:
A questão social colocada, às vezes de difícil resposta, é a necessidade de compreender e explicar como o ressentimento se manifesta, a quais comportamentos serve de fonte e que atitudes e condutas inspira, consciente ou inconscientemente. Sem dúvida, localiza-se aqui um ponto essencial e particularmente significativo[19].

Para evitar mais uma escrita da história construída sob saudosismo, sob a prática da memória “heroificante”, envolveremos a análise dos ressentimentos na perspectiva da escrita de si, que em Possidônio é verificável através do seu “arquivo pessoal”, pois, este último, “pode ser tratado, ele mesmo, como uma modalidade de ‘produção do eu’” [20]. Assim veremos então como estabelecer uma crítica aos documentos e fontes que são atualmente bastante recorridos para a construção de biografias, produções autobiográficas, pesquisas literárias e mais recentemente objeto de estudo da história. Tratar os eventos, imagens, personagens e objetos, através de correspondências, crônicas, registros de memória, para Ângela de Castro Gomes, é, assumir, como historiador:
[...] a subjetividade de seu autor como dimensão integrante de sua linguagem, construindo sobre ela a “sua verdade”. (...) O que passa a importar para o historiador é exatamente a ótica assumida pelo registro e como seu autor a expressa. Isto é, o documento não trata de “dizer o que houve”, mas de dizer o que o autor diz que viu, sentiu e experimentou, retrospectivamente, em relação a um acontecimento.[21]  

Para isso as questões elaboradas transcendem de forma inevitável à rede de sociabilidades e relações pelas quais o indivíduo constrói sob determinados lugares sociais e, dessa forma, cada resultado individual se inscreve[22]. Ao final desta “operação historiográfica”, materializada em suas etapas através da identificação e combinação de um lugar social, da prática científica e de uma escrita, Michel de Certeau mostra que é para nos darmos por satisfeitos a respeito da impermanência das “verdades”, isentando-nos desta obrigação através de um exame crítico. Revela, também, que toda “interpretação histórica depende de um sistema de referência; que esse sistema permanece uma ‘filosofia’ implícita particular; que (...) organizando-o à sua revelia, remete à ‘subjetividade’ do autor” [23]. Conclui afirmando que o “estudo histórico está muito mais ligado ao complexo de uma fabricação especifica e coletiva do que ao estatuto de efeito de uma filosofia pessoal ou à ressurgência de uma ‘realidade’ passada é o produto de um lugar” [24].
Pensamos que Possidônio Queiroz, acuado que se vê pelo tempo e pelas marcas que no corpo aquele produziu e, que impossibilitam sociabilidades antes descritas na memória sobre um tempo de juventude, de vigor jovial, sonorizado pelas práticas musicais, desperta o start de emoções e sensações que o ajudam a trazer de volta fragmentos da década de vinte, fragmentos do tempo que lhe parece estar tão próximo pela vontade de reviver.  O autor na sua condição de octogenário está ficando cego e surdo, não o visitam mais. Era rodeado de pessoas que sempre recorriam a ele para consultas por conta do enorme acúmulo de conhecimento, tanto como pela fama de o homem de maior erudição na cidade. O velho Possi já entra na década de 1990 quase completamente cego, situação essa que o impediu até de se corresponder com amigos e intelectuais.

Tudo neste mundo passa. Esse tempo também passou. Os de minha época trazemo-lo guardado na memória, envolto numa saudade infinita, numa agridoce recordação. Enfim, vivemo-lo, na certeza de que ainda não morremos[25].

Essa pode ser uma das explicações que possa ter contribuído para revelar o mar de emoções que traz nas memórias da década de vinte, como foi dito, momento tão distante daquele em que escreve. Pensamos, porém noutra possibilidade. Que, por falta de maiores e melhores indícios, faz desta condição apenas mais uma hipótese, pois como nos lembra John Tosh a construção de uma determinada memória alguns passados são lembrados outros são esquecidos e o que levou ele a escrever sobre esse momento[26].
Primeiro percebemos que o documento Recordações – III, que são memórias do cotidiano da cidade Oeiras, chaga até nós como uma cópia datilografada, como muito tinha costume de fazer. Trata-se de uma cópia feita através do papel carbono. Onde estaria a matriz?
Segundo, intitulou Recordações – III; então, para onde foram enviados os outros dois: I e II? Onde estão suas respectivas cópias?
Por último percebemos que a profª Miridam Britto, filha do seu grande amigo conterrâneo Bugyja Britto[27], começa a travar um contato através de cartas e que se dá de certa forma intensa. No final da década de 1980 a pesquisadora já era mestre em História do Brasil pela UFRJ. Esta desenvolvendo pesquisas para o desenvolvimento do doutorado em História Social, na USP. Em cartas ela informa a Possidônio que estará se dirigindo à cidade “para aprender consigo coisas da história da cidade. Famílias ilustres, hábitos, costumes, lazer, vida nas fazendas; são inúmeras as coisas de que gostaria que me contasse”[28].
Assim acontece. Em carta de 26 de junho de 1989, ela agradece “as noites agradabilíssimas [...] com as narrativas sobre Oeiras”. para além disso inicia-se as trocas de materiais. Possidônio continua a se lembrar de lendas, costumes, superstições e envia para ela como forma de colaborar com a tese da Miridan sobre “costumes e hábitos de Oeiras no século XX”. Prova disso é a carta que remete em outubro e novembro de 1990 descrevendo, em parágrafos costumes, hábitos, práticas sociais, lazer como por exemplo: as novenas, carnaval, convescotes, passeios, serenatas, e anota:

Foi-se o tempo das serenatas, uma das facetas boas, emocionantes da vida de Oeiras. A lua bonita, redonda esplendorosa e virginal óstia de luz, era pelo mês de agosto um presente do céu aos terráqueos. Homens, feras e animais domésticos, todos s emocionavam coma opalescência mirífica de suas irisações paradisíacas. E a casta e então virgem Diana também se emocionava e se enternecia.
Hoje a bela celene deixou de ser virgem. O homem já esteve lá, dormiu no seu regaço, pisou-lhe o solo sagrado. Não sei, se tendo emplexado com a encantadora virgem de nossas noites poéticas; não sei se retornou melhor.

O mesmo tema é entre outros semelhantes são tratados em Recordações – III, como os carnavais que era “festas carnavalescas. O entrudo às vezes violento, groselho, abrutalhado, em que se dava verdadeiro banho das pessoas até de agua suja, emporcalhando as roupas com esfregamento de Anil da China”. E como num romance literário descreve produzindo os detalhes descritivos pra elaborar as imagens por quem lê:

A cavalhada. Dezenas de mascaradas, montadas a cavalos e jericos, a desfilar com grande algazarra pelas ruas. Grupos dançando nas casa, somente homens, mulheres não tomavam parte no folguedos momescos. Os homens se travestiam de mulher.... e com que satisfação!
Há uma proximidade relacional entre a literatura e a historia como afirma Antônio Paulo Rezende em Desencantos Modernos: histórias da cidade do Recife na década de vinte[29]. Mas essa proximidade também é questionada no  âmbito teórico ao refletirmos o quanto que a história pode ser pensada como ficção. O real, portanto tem de ser representado pela linguagem[30] que é o mecanismo de suporte para a humanidade construir a “realidade” em sua experiência vivida. As experiências narradas, tidas como fantasiosas, podem ser levadas em conta como constitutivas do mundo social?  Foi pensando nesta dualidade que ARNAUT e MOREIRA compõem o texto Historia e ficção: notas para uma abordagem não dicotômica[31] onde afirmam que “pensar a relação ‘ficção x história’ supõe entender a pluralidade dos conceitos que emergem dessas práticas, deslocando a ideia de oposição, infrutífera, e entendendo-a como uma multifacetada cena em que atuam sentidos imbricados, fugidios” essas histórias, como afirmam os autores podem ter, também, sentidos complementares.
Em suma, teriam sido as provocações da professora e pesquisadora Miridan Britto a inspiração propulsora que incentivou Possidônio a viajar tão distante na memória, fazendo-o sentir saudades dos tempos joviais, das serenatas, da tranquilidade da cidade pacata, do romantismo das luzes da lua, das velas, dos postes a carboreto, dos sons das serenatas que envolviam os instrumentistas e a memória daqueles que viram e ouviram o cantar das coisas de Oeiras, suas saudades, seus sonhos? “E hoje, ainda se sonha? Sonha-se. Em qualquer idade que a criatura humana, o sonho lhe é um remédio indispensável, um derivativo divino a lhe dar momentos fugazes de felicidade”[32].


REFERÊNCIAS:

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______. Carta à Miridan Britto Falci. Oeiras, 23 de novembro de 1990.

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______. Itinerários da solidão: registros históricos da solidão no Recife dos anos 20. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.




TOSCH, John. (2011), A busca da História: objetivos, métodos e as tendências no estudo da história moderna. Petrópolis: Vozes.

VEYNE, Paul. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Tradução Marcelo Jacques de Morais – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.




[1] Ver artigo da Patrícia Colombo na Revista Rolling Stone: Colombo, Patrícia. O poeta do povo. Rolling Stone Brasil. 23 de janeiro de 2010. - http://rollingstone.uol.com.br/noticia/manoel-de-barros-o-poeta-do-povo/ - acesso em 20 de julho de 2015.
[2] BRANDIM, Ana Cristina Meneses de Sousa; ADAD, Shara Jane Holanda Costa. Entre Manoel de Barros e Mia Couto: a produção de uma escuta sensível. In: Sentimentos e ressentimentos em cidades brasileiras – Teresina: EDUFPI; Imperatriz, MA: Ética, 2010. p 16.
[3] Idem, p.15
[4] NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Sentimentos e ressentimentos: amor e desamor, territorialização e desterritorialização na cidade contemporânea. In: NASCIMENTO, Francisco Alcides do. Sentimentos e ressentimentos em cidades brasileiras. – Teresina: EDUFPI; Imperatriz, MA: Ética, 2010, p. 11.
[5] QUEIROZ, Possidônio. Revista do Instituto Histórico nº 03, 1981, p. 52
[6] VEYNE, Paul. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Tradução Marcelo Jacques de Morais – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. p.50.
[7] NASCIMENTO, Francisco Alcides do Nascimento. As cidades de PossidônioVi Simpósio Nacional de História Cultural. Escritas da História: Ver – Sentir – Narrar. UFPI, 2013, p.04
[8] Documento escrito em forma de Diário relatando a passagem dos dias em ele esteve na cidade de Teresina descrevendo seus eventos.
[9] Recordações  - III, p.
[10] Sua máquina de datilografar. Provavelmente modelo Remington Rand Nº 17.
[11] NASCIMENTO, Francisco Alcides do Nascimento. As cidades de Possidônio. Vi Simpósio Nacional de História Cultural. Escritas da História: Ver – Sentir – Narrar. UFPI, 2013; p.06.
[12] Recordações - III.
[13] Recordações – III...
[14] Idem.
[15] CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. Tradução Diogo Mainardi – São Paulo: companhia das letras, 1990, p. 44.
[16] Recordações – III
[17] MATOS, Maria Izilda Santos. Cultura, sonoridade e musicalidades na metrópole dos italianos: a São Paulo de Adoniram Barbosa. IN: BOTELHO, Denilson (org.). História e cultura urbana: A Cidade como arena de conflitos – Rio de Janeiro: Multifoco/ EDUFPI, 2015, p.31
[18] PESAVENTO, Sandra JatahyMuito além do espaço: por uma história cultural do urbano. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.8, n.16, 1995, p. 279-290.
[19] História e memória dos ressentimentos. Pierre Ansart, In Memória e (res)sentimento: indagações sobre uma questão sensível. Org: Stella Bresciani e Márcia Naxara. 2ª ed. – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004, p 21.
[20] GOMES, Angela de Castro. Escrita de si, escrita da História: a título de prólogo. In: GOMES, Angela de Castro (Org.). Escrita de Si, Escrita da História. Rio de Janeiro: FGV, 2004, p. 14
[21] Ibidem.
[22] CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense, 2011. 3. ed. p. 57
[23] Ibidem, p.48
[24] Ibidem, p.57.
[25] Recordações -III
[26] TOSCH, John. (2011), A busca da História: objetivos, métodos e as tendências no estudo da história
moderna. Petrópolis: Vozes.
[27] Bugyja Britto e Possidônio trocaram cartas durante as décadas de 1930 a 1990. Existem uma pasta organizada com grande quantidade de cartas trocadas entre os dois. Sobre isso ver: TAPETY, Audrey Maria Mendes de Freitas. Conversa entre amigos: correspondências trocadas entre  Possidônio Queiroz e Bugyja Brito. III seminário internacional História e Historiografia/ X seminário de pesquisa do Departamento de História da UFC, outubro de 2012.
[28] Carta de Miridan Britto Falci para Possidônio Queiroz. Rio de janeiro, 01 de junho de 1989.
[29] REZENDE, Antônio Paulo. Desencantos Modernos: histórias da cidade do Recife na década de vinte – Recife: FUNDARPE, 1997.
[30] LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Tradução de Alfredo Veiga-Neto, - 5. Ed.; 2. reimp. – Belo Horizonte; Autentica Editora, 2015. 208 p.
[31] ARNAUT, Luiz; MOREIRA, Renata. Historia e ficção: notas para uma abordagem não dicotômica. CASTELO BRANCO, Edwar de Alencar, org.; MONTEIRO, Jaislan Honório, org. Historia, arte e invenção: narrativas da história.  – São Paulo: intermeios; Brasília: CNPQ; Teresina: EDUFPI, 2012.
[32] Recordações – III