sexta-feira, 20 de maio de 2011

CARTAS - POSSIDÔNIO À BUGYJA BRITTO

OEIRAS, 02 setembro de 1988
Caríssimo e Eminente Conterrâneo
Dr. Bugyja Britto
Tenho sob meus olhos a sua carta de 31 de agosto findo, hoje recebida. Nas suas cartas, lidas com muita atenção e colecionada com cuidado, tenho sempre cosas a aprender. Li, há muitos anos, que de todo contato humano, tem-se, amiúde, coisas a aprender. Para mim essa, é uma asseveração certa. No caso da que parece anomalia, do nome do imortal Clodoaldo Freitas, tive a aprender, e creio que muita gente não sabe, e que o caro BUGYJA me resolveu.
Tenho a agradecer, sumamente grato, o seu gesto, mandando por na parede de sua residência, o retrato, ou o quadro em que aparece o retrato de minha humilde pessoa, na ocasião que experimentei a subida honra de saudar um dos mais fecundos e eruditos Escritores do Piauí, e para a gloria da Velhacap, filho de Oeiras.
Recebi, há dias, os quatro exemplares do belo opúsculo “ÉCOS”, e o volume de: “PROSADORES DO BRASIL”, coletânea organizada pelo escritor Aparício Fernandes, em que o caríssimo Conterrâneo aparece, como sempre, com belos trabalhos antológicos. Do “ÉCOS”, ofertei um exemplar à inteligente Srtª. MARIA DO ROSARIO REGO OLIVEIRA, filha do nosso saudoso MIGUEL OLIVEIRA, ex-prefeito de Oeiras, ex-Presidente de nossa Câmara de Vereadores, ex-Presidente do nosso extinto ROTARY CLUB DE OEIRAS, ex-Deputado Estadual.
Não conhecia a opinião dos entendidos, a respeito da preguiça mental dos nordestinos com relação ao escrever cartas e certas obrigações espirituais. Não conhecia, mas tenho padecido dessa desídia.
Um pouco sobre o ilustre e saudoso Maestro PEDRO SILVA. Lastimo que se haja perdido o volume musical de sua autoria, respeitante ao folclore do Piauí torço porque venha a ser encontrado.        
Em 1924, rapazinho, no mês de junho dirigi-me a Teresina, no desejo de estudar. À época estudava FLAUTA, este belo instrumento que MARCIAS criara e de que  PATAPPIO SILVA fora um dos admiráveis executores no Brasil.
Foi meu professor aqui, por algum tempo, o Sr. João Francisco de Morais Rego – João Rego, como era tratado. João Rego fora discípulo de Dr. Gonçalo de Castro Cavalcanti, a quem o notável Clidenor Freitas Santos sucedeu na Cadeira n.º13 da Academia Piauiense de Letras. Dr. Gonçalo Cavalcanti, era, como se sabe, versado nos clássicos literários e nos clássicos da música.
João Rego me falava constantemente do maestro Pedro Silva, com quem se dera muito em Teresina, de sorte que ao viajar para a cidade de Saraiva, levava no espírito, a imagem do inteligente e bondoso maestro, que por sinal era estrábico.
Cheguei na Cidade Verde, para usar a Alcunha que lhe pos COELHO NETO (e que naquele tempo, em 1924, o era mesmo),  - cheguei em Teresina no dia 28 de junho daquele ano e no mesmo dia, à noite, me encontrei com o Maestro Pedro Silva, na Igreja do Amparo havia novena eu me apresentei a ele no coro do Templo. Depois da novena conversamos bastante. Falei-lhe de João Rêgo, e fui logo convidado pelo maestro para uma orquestra que ele organizava pra tocar no dia 1º de julho, dois dias depois, na posse do governador Matias Olimpio.  A orquestra se compunha de 24 músicos, inclusive cinco violinos, um deles do Exército o Tenente Bangoin, ou Banguim, que você deve ter conhecido, a Srta. Alzira Gomes e mais violinistas cujo nome não sei. Havia outra flauta mas o  maestro Pedro Silva, não sei por que, me cofiou o papel da primeira flauta. Depois, fiz-me discípulo do notável piauiense.
Suplico-lhe a bondade de perdoar-me essas conversas sem sentido, mas peço-lhe, me consinta narrar o seguinte passo, no qual recebi uma objurgatória do Maestro.
Em dezembro de 1924 perto do NATAL, uma noite, já um pouco tarde, céu choroso, coberto de nuvens prenunciadoras de inverno, ouvi da minha república, que ficava perto da praça Rio Branco, o som de uma flauta, - alguém tocava o instrumento.
Uma enorme saudade martirizava-me o espírito, enchendo-me de grande nostalgia. Arrastei-me até a Praça. Estava vazia. Apenas um moço solitário, sentado num banco, soprava o instrumento e arrancava-lhe algumas notas. Era o Zezito Lopes, com quem me dei depois. Disse-lhe que estudava flauta, pedi-lhe o instrumento para examinar, o que me foi concedido. Vi que havia alguns bares abertos: - o Frazão, o Carvalho, etc. A flauta era em mib também chamada tercina, maior do que o flautim e um pouco menor que a de dó. O instrumento era doce, maleável, obediente. Arranquei-lhe algumas cromáticas e depois executei uma valsa: - “Um Suspiro”, cujo autor desconheço. Composição bonita, cuja ultima parte é uma imitação do canto da seriema. Antes de terminar a execução, estava cercado de pessoas. Entre elas, divisei logo o estimado Maestro PEDRO SIVA, que portava um violão. Eu, que, premido pela saudade desejaria estar sozinho, me vi, me encontrei numa situação de me demorar algo.
O Maestro SILVA, tocava piano e também violão. Não sei se outros instrumentos. Toquei, então, na flautinha, doce, e que tão depressa se acamaradara comigo, com um rico acompanhamento do MESTRE, uma valsa da coleção “Danses Célèbres”, denominada: - “TOUJOURS OU JAMAIS”, de autoria Emile Waldteufel. O Maestro conhecia bem a celebre composição, de sorte que não foi difícil nosso entendimento na interpretação da peça. Ao terminar a execução da extensa valsa, muita gente havia saído dos bares para ouvir de perto a musica do inspirado e fecundo compositor, que suponho ser alemão.
Bem. Terminada a execução, entreguei a flauta ao dono e me esgueirei rapidamente, indo para minha republica. Tive logo a impressão que o Maestro PEDRO SILVA ia me reprochar. Por isso evitei-o por alguns dias. Quando me encontrei com ele, não deixei de lhe ouvir uma censura amiga. Disse-me que eu era uma criatura esquisita. Que, no momento, que estavam ali, para ouvir-me, o Dr, Fulano, o Des. Fulano, e não ficaram satisfeitos com minha fugida, etc., etc. Expliquei-lhe, então, o meu estado de espírito, a psicalgia que me supliciava, o desejo insopitável de solidão, incrementado pela saudade extraordinária de minha terra e dos meus. Fora até à Praça, porque da minha república, ouvira o som de uma flauta, e deu-me, como o logradouro estava vazio, devido a hora avançada da noite, deu-me a vontade de executar algo que me lembrasse OEIRAS. Com o aparecimento de muitas pessoas, o sentimento me excruciou ainda mais. Por isso, fugi. Ele compreendeu e me perdoou.
Era um homem bom, inteligente e humano, o Maestro PEDRO SILVA. Nos ensaios, na casa dele, vasta residência situada na Praça Saraiva, fazendo-me, parece, beco com a então morada do Bispo Diocesano, e depois também Seminário, - nos ensaios juntava-se muitas pessoas gradas. O maestro punha nas estantes diversas composições dele. Após a execução e cessados os aplausos, e era a mesma peça musica batizada com um nome que se enquadrasse com o caráter da musica. Havia um odontólogo, alegre, inteligente e brincalhão, cujo nome, por mais que me esforce, não me recordo, que era, em geral o batizador das peças.
Mais uma vez, suplico-lhe, perdoar-me o tempo que lhe toei com a leitura desse jornal. É que sei de sua amizade com o inesquecível e bondoso MAESTRO, e também, o quanto é bom falar das pessoas estimadas, - pois recordar é viver – por isso é que, nesta carta me alonguei, cotando fatos que se passaram, que se esvaneceram, que foram apagados, destruídos pela pátina do tempo.
Encerrando, uma palavra ainda e esta a respeito da não querença do nosso saudoso e respeitável Des. Pedro Sá, de um curso secundário em Oeiras. De fato, a posição assumida por ele, deve ter influenciado a demora na criação da nossa tão desejada casa de instrução, e para cujo desiderato, o caríssimo Dr. Bugyja, filho iluminado da Velhacap, apesar de residir tão longe, muito trabalhou. A posição assumida pelo Dr. Pedro Sá, não foi em nada elogiável.

                  Do conterrâneo, amigo, admirador

quinta-feira, 19 de maio de 2011

À memória e resistência de Possidônio Queiroz – 107 anos

       Aos 17 de maio de 1904, inicio do século XX, quatro anos após a morte de um dos filósofos mais inquietos e, portanto bastante estudado nos últimos tempos, Friedrich Nietszche, nasce, na cidade de Oeiras, um homem negro, filho de agricultor, talvez descendente de escravos. Seu pai Raimundo Nunes de Queiroz; sua mãe Francisca Soares Queiroz. Tudo isso já falei aqui (neste blog), mas acho que não deixei bem claro que eu penso que ele veio preencher lacunas meio que por necessidade do “destino” da historia.
     Com o poder do seu humanismo fez ressoar nos dias de hoje, configurando certa permanência na memória coletiva local, e de parte da população do estado do Piauí, o seu nome que agora é de várias formas lembrado. Digo de várias formas por que conseguia ser conselheiro de sensibilidade singular nas diversas ramificações das atividades sociais, artísticas e humana.
     Recentemente Possidônio fora agraciado com mais uma homenagem póstuma, ao dedicarem seu nome à Sala dos Advogados da OAB/PI, na Vara do Trabalho de Oeiras, no dia 06 do corrente mês. A homenagem foi justificada pela sua atuação como advogado provisionado, sendo que seus conhecimentos provenientes dos estudos individuais lhe deram a oportunidade de passar no concurso. Atuou com humanismo que lhe era característico sempre interdisciplinando a hermenêutica dos textos jurídicos com as noções universais das diversas áreas do conhecimento humano.
    Desprovido de imparcialidade continuo a escrever tentando afirmar o que é de fato o devido reconhecimento, lembrando que, também, no dia 20 de novembro de 2009, a Prefeitura Municipal de Teresina, através da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, homenageou com seu nome a sala de concerto do Palácio da Música. Esta é a sede da Orquestra Sinfônica de Teresina que provida de uma sala apropriada para execuções de peças musicais da orquestra da cidade, bandas de musica, entre outras formações camerísticas. Como houve a brilhante época em que como ele mesmo dizia “fazíamos de músicos”, e que, portanto “soprava o instrumento que MARCIAS criara”, (quis dizer a flauta) vestiram-no, então com a indumentária do reconhecimento da sua produção cultural nessa arte que, de tão complexa técnica e estruturalmente, encantou a opinião daqueles que assim escolheram e denominaram a Sala Possidônio Queiroz.
     Anterior a essa belíssima homenagem houve a mobilização por parte do deputado Mauro Tapety, através da lei estadual de número 5382, de 23 de abril de 2004, que pensando na condição de professor do ensino ginasial e a todos aqueles indivíduos que o procuravam em sua casa para orientação, tiradas de dúvidas ou simplesmente conversas informais, que se tornavam verdadeiras aulas sobre a vida e as coisas, achou justo indicar seu nome, personificando esse ambiente de produção de conhecimento acadêmico, que é a Universidade Estadual do Piauí – UESPI, com a denominação de CAMPUS PROF.º POSSIDÔNIO QUEIROZ, sediado em Oeiras.
    Peço perdão pela ignorância e falta de tempo na criação deste texto por não encontrar a identificação do proponente do nome da nossa extinta Escola de Música Professor Possidônio Queiroz, instalada na velha capital, em data, também, desconhecida por mim.
     Não sei quanto mais conseguirei escrever sobre a figura do meu bisavô que desde a infância sinto-o com muito orgulho e peso de responsabilidade por ostentar um sobrenome construído com a força que tem hoje devido a sua despretensiosa dedicação à cidade de Oeiras e isso eu defendo de fato com veemência e firmeza. Tantas foram as chances de sair e continuar seus estudos. Entre elas a única a que se permitiu indo morar em Teresina, nos idos de 1924. Lá imagino que se prostrava em lágrimas de saudade do seu torrão natal como conta que certa vez, na véspera de natal, ouvira da sua república o som de uma flauta que de leve chegava a seus ouvidos. Inconformado foi em busca da fonte sonora e ao chegar à Praça Rio Branco depara-se com um solitário flautista com que logo fez amizade. Lá teve a incrível experiência de tocar acompanhado pelo Maestro Pedro Silva.
    Há histórias e narrativas dentro do nosso tempo cronológico, relativas a contextos pelos quais transcorreu o século XX - anos de sua trajetória, e em momentos de grandes vitórias tais como: Criação do Ginásio Municipal, defesa do nome de Oeiras em detrimento do decreto-lei federal nº3599 de 06/09/1941, do então Presidente Getúlio Vargas, criação da Diocese de Oeiras, do Instituto Histórico de Oeiras, do Jornal “O Cometa”, etc. Também, na vida privada e seus momentos de resignação, da solidão povoada, dos anseios não alcançados e dos méritos não reconhecidos em tempo hábil para regozijo.
     Tomo em punho a causa da passagem da sua data natalícia para tentar representar algo que é tão difícil e ao mesmo tempo tão fácil. Fala-se muito em Possidônio Queiroz, mesmo assim ainda tem muito espaço em branco - talvez a literatura acadêmica possa dar ênfase a relatos importantes para a memória oeirense que este conseguiu registrar nos seus documentos. Material este ainda virgem ao olhar dos pesquisadores. Muitos o conhecem, já ouviram falar, porém em maior profundidade analítica, histórica, artística, cultural e todas outras relações sociais em que se envolveu necessitam ser por nós estudadas e divulgadas, afim de que esse exemplo tão impar de bondade e humanismo seja absorvido pela memória dos que ainda virão a navegar nas historias e encantos do velho Possi.
     Muita coisa precisa ser dita pela historiografia e palas literaturas que possuem a capacidade de estudar e representar as figuras que são assim necessárias para nosso reconhecimento como indivíduos da comunidade e, mais ainda, para a apropriação da cultura histórica e do nosso maior patrimônio que é a identidade do cidadão Oeirense.

Rodrigo Queiroz

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

HISTORIA DE OEIRAS - SESQUICENTENÁRIO DA ADESÃO DO PIAUÍ AO MOVIMENTO DA INDEPENDENCIA.


Escreve Possidônio Queiroz

A ex-Capital do Piauí comemorou condignamente, ao dia 24 de janeiro recém-findo, a passagem do sesquicentenário de adesão do nosso Estado ao movimento da independência do Brasil.

Rememorou a velha urbe, os dias distantes do ano de 1823; momento histórico em que o Brigadeiro Manoel de Sousa Martins proclamava, nas ruas da Capital alvoroçada, a adesão da Capitania, à causa do Príncipe Regente, cujo nome foi delirantemente ovacionado.

Aquele desejo de liberdade, que fizera tantos mártires em varias partes do Brasil, aquela vontade de ver a pátria entregue à direção de seus próprios filhos, por tanto tempo coaretada, se manifestava então, cônscia da responsabilidade que assumia, mas a tudo disposta plena de amor pela terra comum.

Naqueles momentos distantes e incertos da vida da antiga Capitania, ainda o solo piauiense era um viveiro de portugueses fiéis à vontade de D. João VI; ainda às forças de Fidié, disciplinadas e aguerridas, eram uma terrível ameaça qualquer movimento separatista.

Vivia a nossa terra, dias intranqüilos. Perseguições, correrias, mortes, se davam em vários pontos do Estado. Elementos maus que sempre os há, nos momentos de agitação publica, de movimentos armados e até de calamidade, se aproveitavam da situação para atacarem fazendeiros, perpetrarem vinganças, praticarem latrocínio, etc.

Aqui, na velha Oeiras, na Capital, lavrava, subterrânea a ameaça, a insegurança. Ninguém confiava em ninguém. Pessoas amigas do Reino deletavam amigos. As autoridades se olhavam desconfiadas.

No norte da Capitania, Fidié, o poderio português, implacável nestas plagas, ocupava Parnaíba, e forçava uma obediência que lhe repugnava a consciência. Trazia amedrontadas as populações das circunvizinhanças. Prometia reduzir todos à mais completa vassalagem ao seu rei e à sua nação. Vigilante adestrava tropas e pedia mais soldados do Maranhão e de além-mar. Este pedaço do território brasileiro, havia-o de trazer, a todo custo, fiel ao juramento que prestara em Lisboa. Subjugaria a todos e teria obturada a vontade piauiense, para que ninguém aqui pensasse em liberdade.  

Quanto estava enganado o ilustre Cabo de Guerra! No coração daqueles mesmos em que muito confiava, ebulia, avassaladora e irreversível, a lava do movimento anti-português.

O Piauí se inflama e vibra, ante a ajuda franca do povo da Terra da Luz. Batalhões se improvisavam, bisonhos mas pletóricos de sentimentos patrióticos.
Oeiras sacode-se. Sabe que a hora é chegada. Hora do Brasil, hora do Povo, hora da Velhacap. As cousas aqui não andavam boas para os reinóis. Já um mês atrás, três homens aramados haviam assaltado a Casa da Pólvora e chibateado o guarda.

O domínio português se desmoralizava em nosso meio. Cheio de indignação o Padre Dr. José Joaquim Monteiro de Carvalho e Oliveira, Vigário da cidade, dirigia poucos dias depois do fato, à Junta de Governo, longa representação de que citamos este pequeno trecho: - “Ataca-se com mão armada o deposito da pólvora desta cidade, e espanca-se seu guarda. Trata-se da independência com a maior imprudência e descaramento.”

Ao Revmo. Pe. português, não lhe sofre o coração, sem protestos, grande como o próprio nome, ver a audácia dos oeirenses, em pensar em liberdade.

O dia 24 de janeiro foi a resposta cabal a todos que nos queiram jungidos à coroa de D. João VI.

O grito do Ipiranga se repete, naquele dia, na cabeça da Capitania. De agora em diante, sim, pode-se dizer que o Piauí aderiu ao Movimento Separatista.

Fidié esbraveja. Vomita impropérios. Parte contra nós desde a distante e bela Princesa do Igaraçu, dardejando raios e tramando vinditas terríveis.

Tropas piauienses e cearenses coaretam-lhe a marcha às margens históricas do Jenipapo e o desvanecem de vir a Oeiras. E Oeiras vence e consolida e a idéia. E vai depois até Caxias, ajudar o Maranhão a libertar-se também. 

O dia 24 de janeiro é um grande dia na historia do Piauí. Oeiras se orgulha de ter sido palco desse grande acontecimento e se desvanece do feito histórico de seus filhos cuja memória reverencia.

Não passou despercebida, entre nós, a data memoranda. Pela manha ligeiro passeio a pontos ligados a nossa historia. Inicialmente à Casa da Pólvora, marco imperecível do nosso glorioso passado. O velho prédio que esteve parcialmente no chão sem teto, - uma ruína em constante protesto contra a ingratidão e a falta de civismo dos homens, se apresentava completamente restaurado.

Ali o Sr. Prefeito Juarez Tapety, entregou a chave da porta única da Casa bicentenária ao emérito historiador Monsenhor Joaquim Raimundo Ferreira Chaves, que aqui viera a convite do Instituto Histórico de Oeiras para pronunciar um conferencia, e pediu quisesse S. Exª, abrir a mesma porta. Antes de fazê-lo, visivelmente emocionado, pronunciou o imortal coestaduano, ligeira oração em que evocou fatos do nosso passado, e disse da significação do momento altamente compreensível aos estudiosos, aos conhecedores de nossa historia. Dai porque enalteceu a ação do Prefeito Juarez Tapety, em mandar restaurar o prédio, como preito de veneração ao passado histórico da Velhacap, aos que por ela, em tempos idos, sofreram e trabalharam.
Casa da Pólvora, 24 de Janeiro de 1973

Muitas palmas se fizeram ouvir quando o imortal piauiense rodou a chave e abriu a porta. Estavam presentes, além do Sr. Prefeito Municipal, S. Exª Revmª oSr. Dom Edilberto Dinkelborg, Bispo da Diocese; o Sr. Joaquim Madeira Reis, Presidente da Câmara Municipal da cidade; diversos Vereadores; o Dr. Raimundo da Costa Machado, Presidente do Instituto Histórico de Oeiras e vários membros da Diretoria do mesmo Instituto Histórico e diversos sócios; representantes de comercio; autoridades; funcionários públicos e avultado numero de pessoas.

Depois, foi-se até o ponto, onde,em agosto de 1852, o povo de oeiras, chorando, acompanhou o velho cofre que Saraiva fazia transportar para a nova sede do governo. A seguir visita à ponte Zacarias de Góis, a mais velha do estado, toda de pedra – dos alicerces ao piso. Visita à casa onde residiu o Visconde da Parnaíba. Visita ao Paço Episcopal, antigo Palácio Nepomuceno, tombado como monumento histórico nacional.     
Às dezenove horas missa de ação de graças, concelebrada pelo Sr. Dom Edilberto Dinkelborg, Monsenhor Chaves e Monsenhor Leopoldo Portela. Às vinte e trinta, coroando as comemorações do dia, a muito aplaudida conferencia pronunciada pelo brilhante historiador, Monsenhor Joaquim Ferreira Chaves, no salão nobre da União Artística Operaria Oeirense. O festejado escritor, conhecido historiador coestaduano, membro da academia Piauiense de Letras, versou o tema: - “PARTICIPAÇÃO DE OEIRAS NAS LUTAS DA INDEPENDENCIA”. Fecharam-se assim, com letras de ouro, ou chave de ouro, as comemorações do dia.

Acrescentamos, rematando esta crônica, que a Casa da Pólvora, velho marco que há dois séculos atrás servia de depósito de munições da guarnição da Capital, foi restaurada por inspiração do Instituto Histórico de Oeiras.
Casa da Pólvora

O ilustre Esculápio conterrâneo, o Exmo Sr. Dr. José Expedito de Carvalho Rêgo, criador e diretor de “O COMETA”, membro do IHO, foi o primeiro a levantar a voz a prol da restauração do histórico prédio.

Na sua conferencia, pronunciada a 24 de janeiro do ano passado, abrindo a série, que o IHO programara para o ano do Sesquicentenário da Independência, disse: “- Esperamos que um dos pontos por se batam estes jovens brilhantes que tiveram a coragem de criar o Instituto Histórico de Oeiras, seja a restauração da  Casa da Pólvora, que se encontra em ruínas e a incorporação da mesma ao Patrimônio Histórico Nacional.

A restauração de fez. O Sr. Prefeito Juarez Tapety, alma aberta às cousas veneráveis de nossa terra, recebeu satisfeito a sugestão do IHO, e ai está a Casa da Pólvora, completamente restaurada olhando, lá do alto do Rosário, a cidade que se espraia na planície, alegre, por que finalmente chegou o dia em que os oeirenses se lembrar do se papel histórico.      

A Casa da Pólvora ri, satisfeita. E como uma sentinela do passado, contempla a nossa Oeiras que se remoça, cresce e desenvolve; contempla a cidade grande que viu menina.

Jornal “O COMETA” – Nº 14, fevereiro de 1973

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

APRESENTAÇÃO

    Para iniciar os trabalhos de postagem no blog Memorial Possidônio Queiroz vou experimentar fazer uma apresentação como tentativa de descrever de uma forma rápida as atividades culturais por ele praticadas:  o que ele fazia, alguns de seu sentimentos sociais, como documentava suas praticas e que tipo de documento podemos encontrar para apreciar, estudar – sua vida, sua obra, historia, memórias da cidade, infância, na cidade de Oeiras, das coisas relacionadas às suas praticas culturais e do Piauí.  

    Possidônio Nasceu na cidade de Oeiras, no estado do Piauí, Brasil. Era o ano de 1904. Filho de Raimundo Nunes de Queiroz e Francisca Soares Queiroz. Seu pai era negro, agricultor, provavelmente descendente de escravos, possuía certa quantidade de terras, portanto certo prestigio social na pequena cidade. Tais recursos foram fundamentais para financiar os primeiros estudos dos filhos já que não existia na época o ensino público regular no  município.

    Dividido entre a cidade e os passeios rurais aprendeu a apreciar a vida simples que sustentou até a velhice, e que a muito esforço manteve em equilíbrio, quando aos poucos o patrimônio do pai foi se desfazendo. Estudou no Externato Oeirense juntamente com outros dois irmãos entre 1917 a 1919, onde cursaram disciplinas como: Português, ditado, caligrafia, análise, aritmética, Francês e geografia.  No início da década de 20 concilia entre os estudos individuais (apaixonado que era por leitura) seus primeiros estudos de musica e a profissão de ourives.  Logo depois segue para Teresina, em 1924, na tentativa de continuar os estudos no curso de Escrituração Mercantil. Não conseguiu e retornou à Oeiras de onde não mais saiu, a não ser para tratamento médico.

    Estudou Flauta Transversal onde conseguiu bastante desenvolvimento técnico e, também, no aprendizado de música e composição. Anos mais tarde experimenta suas primeiras composições e forma uma pequena orquestra na cidade.
Por não se ausentar mais de Oeiras, dá inicio aos estudos jurídicos investindo na compra de livros de direito. Por volta dos anos dos anos 50 faz sua inscrição na OAB para o teste da instituição. Tem êxito assumindo assim o titulo de Advogado Rábula. Trabalhou na prefeitura municipal desde que assumiu ,em 1929, na companhia do prefeito José Sá e do amigo Raimundo da Costa Machado.

    Outras tantas coisas foram realizadas por Possidônio ou receberam sua colaboração. Neste sentido vamos tentar fazer a divulgação dessas obras através de análise, e adaptações de documentos diversos. Artigos para revistas, jornais, memórias, comentários, discursos, fotos, entre outros, são umas das fontes mais acessíveis para exposição não esquecendo, também das importantes pastas classificadoras contendo cartas trocadas com as mais diversas intelectualidades do Piauí e do Brasil.